Três perguntas para… Tec Fase, artista muralista

1) Qual a principal função do graffiti nas grandes cidades?

O graffiti representa um espaço de liberdade de expressão em tempos em que a repressão e a censura aparecem com força nas sociedades modernas. As grandes cidades sofrem muitos problemas e o grafite é uma voz que não pode ser institucionalizada, pois perderia sua razão de ser.

2) Recentemente você liderou a produção de um mural em um terreno da MagikJC a partir de desenhos de alunos da escola EMEI Patricia Galvão. De que forma você acha que as crianças autoras dos desenhos e as pessoas que passam por ali são impactadas por esta obra?

O meu trabalho junto a escolas públicas vem sendo desenvolvido há mais de oito anos, tanto na Argentina como no Brasil. É um projeto empírico que vai se transformando e se somando a novos aprendizados a cada escola que pintamos juntos. Nosso objetivo principal é fortalecer a autoestima das crianças valorizando os desenhos feitos nas aulas que damos. O fato de reproduzir esses desenhos na escala de mural, seja na fachada da escola e em outros espaços públicos da vizinhança, levam aos alunos a se sentirem valorizados pelos adultos. O que poderia ser classificado como “mal desenhado”, nos provamos ser incrível.
Há outros impactos paralelos à nossa ação, como a apropriação do espaço público e a relação da família ao ver seus filhos representados no mural.

3) Seu trabalho traz uma crítica consistente a um modo de vida baseado no uso do carro e do consumo. Qual você acha que é o caminho para vivermos melhor  nos grandes centros urbanos?

Depende muito de políticas públicas, de urbanismo e principalmente de inclusão.
Os investimentos devem ser pensados estrategicamente e a longo prazo. Tem de haver prioridades. Eu não acho certo estar pensando em um parque quando embaixo dele há pessoas morrendo em decorrência do uso de drogas, sem moradia. Primeiro tem que pensar nisso e depois nos parques — senão é como ter a geladeira vazia e comprar uma TV nova. Eu levo minhas filhas para passear no Minhocão, mas para chegar até lá passo por um cenário de guerra, pulando pessoas em situação degradante. Não consigo pensar em urbanismo diante disso. As cidades precisam ser mais humanas.